Félix da Silva Freire
Félix da Silva Freire
Epitáfio métrico
[…]
Que oitava Maravilha não levanta,
Templo erigido à Virgem mais fecunda,
Que até do mesmo Deus, sendo possível,
Em as necessidades foi fartura?
Nem do Egipto as pirâmides soberbas
Se elevam mais nos mármores assumptas,
A devassar o claro domicílio
Ao brilhante esplendor da Luz divina.
Que Augusta superior magnificência
Para os cultos, que a Deus a Fé tributa,
Não erigiu fiel, e ergueu zelozo,
Em altas Salomónicas colunas?
Quem mais do escopro os relevantes rasgos
Fez apurar, nas sacras esculturas,
Para que o bronze, e o mármore intimassem
Do busto em cada estátua uma alma infusa?
De Fídias, no candor dos alabastros
Deixando a glória que a laurea escura,
Facilitando em prémios da fadiga
Os animados, que a arte dificulta?
Não da gentilidade fabulosa
Eternizando ideias, que repugna
De outros sublimes Numes a evidência,
Em que o culto o seu mérito não frustra.
Mas sim a glória ilustre dos Alcides,
Que em verdadeira, e não fingida luta,
Os da Hidra infernal vorazes colos
Fontes abatem, valorosos truncam.
E para dilatar-lhes mais a glória,
Que efígies não tirou da arte, que ilustra
Aos Apeles, Timantes, e Parrásios,
Oráculos famosos da Pintura?
[…]
Epitaphio metrico, consagrado ao Sumptuoso Mausoleo do Fidelissimo, e Augustissimo Rey de Portugal Dom Joaõ V. E offerecido à inconsolável dôr de seu muyto prezado, e amado Sobrinho o Senhor D. Joaõ Filho do Serenissimo Infante de Portugal o Senhor D. Francisco, Lisboa, Oficina de Pedro Ferreira, Impressor da Augustíssima Rainha Nossa Senhora, Ano do Senhor 1750, p. 6-7